Os corpos do sargento do Exército Julio Cesar Mikaloski e do sargento da Marinha Sidiney Lins dos Santos Junior, mortos carbonizados dentro do porta-malas de um Honda Civic, no último dia 2 de dezembro, em São Pedro da Aldeia, passará por exame de arcada dentária para identificação no Instituto Médico Legal (IML), no Rio. Segundo o delegado responsável pelas investigações, Milton Siqueira da 127° DP (São Pedro da Aldeia), o exame antropológico, como é chamado, foi solicitado no dia 8 de dezembro após os corpos serem transferido de volta para a capital, já que os restos mortais dos militares estavam quase em estado de cinzas, dificultando à liberação para sepultamento.
Elisandro Equey, pai do sargento Julio Cesar, lamenta a demora. Apesar de o aposentado compreender que os exames sejam necessários para a identificação, a angústia de não saber quando poderá enterrar o filho preocupa a família.
— Estamos desesperados com isso. A família quer respostas de quando será liberado o corpo. Meu filho era um homem bom e não merecia ter morrido de uma forma tão cruel. Espero que a justiça seja feita — desabafou.
O delegado Siqueira disse que diligências seguem sendo efetuadas para localizar os responsáveis do crime, mas ainda não há indicações de autoria. Além disso, ele afirma que a casa de prostituição — lugar onde os militares teriam sido vistos pela última vez antes de serem mortos — não possuía câmeras de vigilância. No entanto, analisando filmagens capturadas de estabelecimentos próximos à rua onde o carro do sargento do Exército foi encontrado, na Estrada da Caveira, não foi possível identificar o rosto dos envolvidos por conta da má qualidade da imagem.
— Nas filmagens, só conseguimos ver alguns borrões. Nós conseguimos identificar ser o carro do sargento porque, em um determinado ponto, dá para ver a luz do veículo. É um trabalho de inteligência e apuração que estamos fazendo para tentar chegar aos criminosos — pontuou o delegado.
Caso o exame de arcada dentária no IML não consiga identificar os militares, de acordo com o delegado um segundo exame de DNA será submetido, mas sem previsão de resultado.
Siqueira já descartou a possibilidade de os militares terem algum envolvimento com a milícia. Ele acredita que o crime possa ter sido motivado por uma possível desavença. E a crueldade em que os militares foram executados foi algo jamais visto antes na cidade.
— Foi um crime muito violento. Nesse tempo em que estou aqui como delegado jamais tinha visto algo parecido. Não estamos medindo esforços para chegar nos culpados. Não posso dar mais detalhes da investigação, mas estamos avançando com ela — afirmou.
Julio estava no Exército há 12 anos. Aos 33 anos, esteve na ocupação do Complexo do Alemão, em novembro de 2010. Era a primeira vez que militar visitava São Pedro da Aldeia a convite do amigo, o sargento da Marinha Sidiney Lins. Os dois se conheciam há mais de 10 anos.
Em nota, o Comando Militar do Leste informou que “neste momento de consternação, está prestando todo o apoio à família e solidariza-se com os familiares e amigos.” Já a Marinha, desde que foi procurada pelo GLOBO, não se manifestou sobre a morte do militar que pertence a seus quadros.
‘Confusão na boate’
Segundo Elisandro, um terceiro amigo morador da cidade, que estaria com os militares no dia em que foram executados, também foi convidado a depor na delegacia. Enquanto o pai estava na unidade policial, leu um depoimento de uma testemunha detalhando o que poderia ter acontecido com os militares na noite em foram assassinados. Julio e Sidney estariam se divertindo dentro de uma boate, em São João da Aldeia, quando uma confusão começou. Na ocasião, homens que estariam armados com fuzis entraram na casa de festa e levaram os militares para o carro de Julio, indo em direção à Estrada da Caveira, local onde foram encontrados carbonizados.
Visita à casa de prostituição
Após assistirem ao jogo do Brasil pela Copa, em um bar da cidade, Julio e Sidinei horas antes de serem assassinados visitaram uma casa de prostituição na região. O GPS encontrado no carro mostra o trajeto feito pelos militares na noite do crime. O registro de ocorrência foi feito por volta das 7h30 de sábado. Policiais militares do 25° BPM(Cabo Frio) foram até o local. Ao chegarem, os cadáveres sem identificação foram localizados no banco de trás e no porta-malas do veículo.
Julio Cezar era separado e mantinha a guarda dos filhos compartilhada. Ele morava sozinho no bairro Monte Castelo, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Já o amigo Sidinei Lins, conhecido do militar há quase 10 anos, teria se mudado para Cabo Frio há poucos meses. Foi a convite dele que Julio decidiu viajar. Agora, o pai espera que todas as providências sejam tomadas para que o caso possa ser solucionado.
— Eu quero que os responsáveis pela morte dele sejam presos. Meu filho não merecia isso. Estou muito chateado porque até agora não fizemos o exame de DNA. Ninguém nos ligou para agendar nada. E agora, eu fico aqui esperando respostas e sofrendo a perda do meu filho — disse Elisandro, pai do militar Julio Cesar.