CULTURA

Casa da Cultura reafirma protagonismo na Baixada Fluminense

Letícia Florêncio é diretora da Casa da Cultura da Baixada
Letícia Florência (ao centro) com integrantes da Cultura e da produção do Flidam

Diretora Letícia Florêncio diz que entidade vive um momento muito especial, com várias frentes acontecendo ao mesmo tempo, como a renovação do projeto Cultura de Direitos e a produção do FLIDAM

Antonio Carlos

Nesta entrevista exclusiva, Letícia Florêncio, diretora da Casa da Cultura da Baixada, segura o fôlego e fala da recheada agenda de ações que a instituição deve cumprir ainda neste ano, e que garantem a continuidade de um trabalho fundamental de promoção da cidadania através da cultura.
É o caso do FLIDAM – Festival Literário Internacional da Diáspora Africana -, um dos eventos mais significativos para a valorização da cultura afro-brasileira, que a CC assume a comunicação e divide a produção.

aGora! – Quais são as principais ações e projetos atuais da Casa da Cultura e como a comunidade pode acompanhar esse trabalho?
Letícia Florêncio – A Casa da Cultura está vivendo um momento muito especial, com várias frentes acontecendo ao mesmo tempo. Acabamos de renovar o projeto Cultura de Direitos por mais dois anos, o que garante a continuidade de um trabalho fundamental de promoção da cidadania através da cultura. Também marcamos presença na Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, levando a voz da Baixada para um espaço de construção de políticas públicas importantes para o país.
Neste ano, assumimos a comunicação e dividiremos a produção do FLIDAM – Festival Literário Internacional da Diáspora Africana, um dos eventos mais significativos para a valorização da cultura afro-brasileira. Continuamos também na luta pela criação da Casa de Memória Marinheiro João Cândido, que será um marco histórico para a nossa região. E já estamos nos preparando para iniciar, provavelmente entre outubro e novembro, o projeto Raízes da Baixada, que vai fortalecer ainda mais o protagonismo cultural local.
Quem quiser acompanhar de perto todas essas ações pode seguir a Casa da Cultura nas redes sociais: @casadaculturadabaixada no Instagram, Facebook e também no YouTube.

aGora! – Em setembro aconteceu a 5ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Conapir). Qual foi a participação da Casa da Cultura nesse evento?
LF – Estivemos representados pela nossa companheira Leila Regina,
a presença dela foi de extrema importância porque garantiu que a voz da nossa comunidade estivesse presente em um espaço estratégico de construção de políticas públicas. A Conapir é um encontro que discute reparação histórica, justiça racial e valorização das culturas afro-brasileiras e indígenas, temas diretamente ligados à missão da Casa da Cultura.
Com sua participação, Leila Regina levou a experiência e as demandas do nosso território para um debate nacional, fortalecendo a representatividade cultural e social da instituição. Além disso, a presença da Casa da Cultura nesse ambiente amplia nossa rede de contatos, fortalece parcerias e dá visibilidade às nossas ações em defesa da igualdade de direitos.
Inclusive aproveitamos nossa ida a Brasília para uma visita à Embratur, com o Frei Tatá, sobre a Casa de Memória Marinheiro João Cândido. Mais do que participar de um evento, enviamos nossa representante para contribuir ativamente com propostas que impactam o futuro da cultura, da educação e da cidadania, reafirmando nosso compromisso com a reparação histórica e com a justiça racial.

aGora! – A Casa da Cultura tem uma ligação histórica com João Cândido e agora integra o movimento pela construção da Casa de Memória Marinheiro João Cândido. Qual a importância desse projeto para a cidade e para a própria instituição?
LF – A importância é imensa. A Casa de Memória será o primeiro equipamento cultural da Baixada Fluminense dedicado a homenagear um líder negro, e isso representa um marco histórico para a nossa região. Para a Casa da Cultura, é a continuidade de uma missão que nasceu conosco: preservar memórias, combater o racismo e valorizar a identidade cultural do nosso povo. Tivemos, inclusive, a honra de ter entre nossos fundadores a irmã de João Cândido, Zeelândia Cândido, o que torna essa luta ainda mais afetiva e legítima. Ao lado da família de João Cândido, temos trabalhado para garantir que ele seja reconhecido não apenas como herói municipal e estadual, mas também como Herói da Pátria. Participar desse projeto é reafirmar o nosso compromisso em manter viva a memória de um homem que ousou enfrentar a opressão e que inspira novas gerações a acreditarem na justiça e na igualdade.

aGora! – O que é o FLIDAM e qual a sua relevância para a Baixada Fluminense?
LF – O FLIDAM é o Festival Literário Internacional da Diáspora Africana, realizado em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Este ano o festival chega à sua 13ª edição e acontece tradicionalmente em torno do dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra no Brasil. Reconhecido desde 2018 no calendário oficial do Estado do Rio de Janeiro, o FLIDAM é muito mais do que um evento literário: ele é um espaço de pertencimento, memória e reflexão para as comunidades afrodescendentes, afirmando identidades históricas e culturais que por muito tempo foram marginalizadas.
Sua importância é tanto cultural quanto social. O festival atua como instrumento de educação pública, fortalecendo o cumprimento da legislação que garante o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira, além de promover a igualdade racial. A literatura, no contexto do FLIDAM, é tratada como uma ferramenta de transformação social: serve para denunciar, para lembrar e para realizar reparações simbólicas.
A Casa da Cultura tem uma trajetória de envolvimento profundo com o festival já esteve como parceira, colaboradora e apoiadora e, neste ano, assume a produção e a responsabilidade pela comunicação. Em 2025, o formato será ainda mais inovador: um circuito de formação em diversos espaços de movimentos sociais que atuam em rede, ampliando o alcance e o impacto das atividades do FLIDAM na região.

aGora! – O Que é Projeto Raízes da Baixada?
LF – O projeto Raízes da Baixada surgiu da necessidade de valorizar e preservar as manifestações culturais tradicionais da Baixada Fluminense, em uma região marcada por riqueza cultural, mas historicamente negligenciada em políticas públicas contínuas voltadas à cultura popular.
Embora a importante relevância econômica, a Baixada Fluminense é um território marcado por acentuada pobreza, desigualdades sócio espaciais e aviltantes condições de vida da maior parcela da população. A violência é uma realidade nesta região, sobretudo contra as pessoas pretas, que correspondem em média a 70% da população dos 13 municípios da Baixada.
O projeto será realizado em breve pela Casa da Cultura e terá dois grandes eventos, que irão envolver mais de 4 mil famílias ao longo de 12 meses.

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