Para as meninas do 8º e 9º da Escola Municipal Vicente Licílio Cardoso, localizada no bairro Saúde, no Centro do Rio, a menstruação ainda é envolta por vergonha e insegurança.
As amigas Ana, Bia, Nikoly, Letícia e Emily estão entre os 163 mil estudantes beneficiados pelo programa da Secretaria Municipal de Educação “Livres para Estudar”, que visa a distribuição de 12,8 milhões de absorventes descartáveis a 951 unidades de ensino da rede municipal até maio deste ano.
“Ter o absorvente aqui na escola vai ser uma libertação, porque muitas pessoas não têm condição de comprar. Vai ser uma ajuda e é muito importante. Acho que já tinha que ter há muito tempo”, diz Ana Beatriz Assumpção, de 15 anos.
Inês Resende, coordenadora pedagógica, explica que já era de praxe ter alguns pacotes guardados na secretaria. “Agora, a gente vai distribuir um pacotinho por mês para cada menina. É uma ação para que elas se sintam seguras dentro da escola”.
A iniciativa inaugura o debate sobre a dignidade menstrual nas escolas da cidade e dá luz a uma temática pouco explorada nesse espaço.
Segundo uma pesquisa realizada pelo Unicef e o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), 71% dos entrevistados disseram que nunca tiveram aulas, palestras ou rodas de conversa sobre cuidados na menstruação no âmbito escolar.
“É pouco a escola só distribuir, mas é um caminho. É benéfico de qualquer forma, mas deveria ser mais distribuído e mais falado. O tabu está muito enraizado”, complementa a aluna Nikoly Albuquerque, de 15 anos.
A falta de um item tão básico para a saúde de pessoas que menstruam pode levar ao absenteísmo, prejudicando o rendimento do estudante, ou até a evasão escolar. Uma em cada quatro mulheres já faltou à aula por não poder comprar absorventes. É o que mostra o levantamento feito por uma multinacional de produtos menstruais em parceria com a antropóloga Mirian Goldenberg.
“Eu estava na escola e a minha amiga não tinha ido a semana inteira. Eu perguntei pra ela: ‘O que aconteceu? Por que você não veio?’ Aí ela falou: ‘Ah, eu estava menstruada, não tinha absorvente. Eu tive que ficar em casa'”, conta Ana Beatriz Cândido, de 13 anos.
Muitas recorrem a soluções improvisadas para conter o sangramento menstrual, como o uso de papel higiênico, pedaços de pano, roupas velhas, jornal e até miolo de pão.
Entre as consequências para a saúde estão alergias e infecções, como cistite e candidíase, ou até uma condição que pode levar à morte, conhecida como Síndrome do Choque Tóxico.
Além das meninas, alunos transexuais e não-binários também serão beneficiados pela política pública, que atende às escolas do município do Rio que tenham crianças e adolescentes em idade menstrual.