NOTÍCIAS

Jovem perde bebê e morre um dia após o parto

Mãe e irmã da jovem, respectivamente Maria Alice Santos e Jéssica Gonçalves, estão inconformadas

O final do ano passado foi de dor e luto para a família de uma jovem grávida que deu à luz um bebê que morreu 10 minutos depois. Isabella era a segunda filha de Diana Gonçalves, de 21 anos, que não resistiu às complicações pós-parto.

A família acusa o Hospital Estadual da Mãe, em Mesquita, na Baixada Fluminense, de negligência. Diana morreu 24 horas após a filha. No dia 9 de dezembro, com 40 semanas de gestação, Diana começou a perder líquido e sentir muitas dores. Foi duas vezes até o Hospital da Mãe. Segundo a família, lá foi medicada, mas os médicos orientaram que ela voltasse para casa.

Ela continuou sentindo os mesmos sintomas e voltou à unidade no dia 13 de dezembro. E, mais uma vez, voltou para casa. “Ela disse que eles mandaram aguardar, que não tinha muito o que fazer”, disse a mãe, Maria Alice.

A irmã de Diana contou que ela seguia perdendo líquido. “Eu acho que eles poderiam ser mais atentos”, afirmou Jéssica. No dia 15 de dezembro, Diana enfim foi internada e preparada para o parto. Na ficha de atendimento, a prioridade foi classificada como “pouco urgente”, ou classificação verde, sem risco.

Provável sepse

O bebê morreu cerca de dez minutos após nascer. No atestado de óbito, a causa da morte foi identificada como “asfixia, sofrimento fetal e provável sepse”. A família diz que a demora no parto causou mecônio, que corresponde às primeiras fezes do bebê.

“A pediatra falou para minha irmã que se tivesse sido minutos antes, a neném estava viva”, lembrou Jéssica.

O enxoval de Isabella estava pronto. A ideia agora é doar tudo. “Eu não consigo nem entrar dentro do quarto, está sendo muito difícil”, disse o viúvo, Jonathan Serra. “Só queria que tivesse justiça, para não ter que se repetir com outras famílias.”

Dificuldade para respirar

Diana permaneceu internada na enfermaria do Hospital da Mãe para se recuperar, mas começou a sentir enjoo e dificuldade para respirar. No dia seguinte ao parto, foi transferida para o Hospital da Mulher, em São João de Meriti, mas não resistiu.

Segundo o advogado Carlos Borges, que representa a família, “há um indício mínimo de pelo menos negligência e imperícia para toda família”.
Em nota, o Hospital Estadual da Mãe disse que abriu uma sindicância imediatamente após a morte para apurar o que aconteceu, e que o procedimento ainda não foi concluído. A direção da unidade lamenta as mortes e se solidariza com a família.

O Hospital Estadual da Mulher disse que a paciente chegou à unidade com complicações pós-parto sem sinal de sepse, mas que um dia depois apresentou falta de ar e, mesmo com todos os cuidados, não resistiu. Já a Secretaria Estadual de Saúde disse que acompanha a sindicância aberta pelo Hospital da Mãe.

Violência obstétrica

O caso de Taís não é isolado, e faz parte do chamado violência obstétrica. De acordo com a pesquisa “Mulheres brasileiras e gênero e espaços público e privado” (2010), realizada pela Fundação Perseu Abramo (FPA) e o Serviço Social do Comércio (Sesc), uma em cada quatro brasileirasjá foisubmetida a maus-tratosfísicos, psicológicos ou ambos. Já no governo Jair Bolsonaro (PL), o Ministério da Saúde (MS), sob a gestão do ortopedista Luiz Henrique Mandetta (2019-2020), sugeriu a extinção do termo em maio de 2019, por considerá-lo “inadequado”.

Imediatamente, veio o posicionamento do Conselho Nacional de Saúde (CNS), durante a 317ª Reunião Ordinária do órgão. Segundo o órgão federal independente, “o alto índice de cesarianas configura violência obstétrica, as cesarianas desnecessárias expõem a mulher a três vezes mais o risco de morte por parto”.

“O documento aponta ainda que muitas mulheres são submetidas ao uso do soro de ocitocina (36,5%) para acelerar o trabalho de parto, em desacordo com as Boas Práticas de Atenção ao Parto e ao Nascimento”, dizia o texto, disponível no site do CNS, numa referência ao que a Organização Mundial da Saúde (OMS) estipula desde 1996.

Outro caso envolvendo a unidade

Hospital da Mãe, em Mesquita, é alvo de outras denúncias

Nas redes sociais, diversos internautas se manifestam sobre as mortes de Diana e Isabella. Os relatos mostram que a unidade de Mesquita tem sido negligente em relação ao atendimento. Outro caso também ocorreu em dezembro. Uma equipe médica do Hospital da Mãe foi acusada de esquecer placenta no ventre de parturiente internada no CTI da unidade.
Passados quase dez dias desde o parto, Taís Azevedo, 25, seguiu internada na unidade. Mas não era para se recuperar após dar à luz ao primeiro filho. Logo que recebeu alta da maternidade, ela começou a
sentir mau cheiro dentro do próprio organismo. No retorno à unidade de saúde, a parturiente descobriu que a equipe médica que realizou o parto normal esqueceu gaze e restos da placenta do bebê no ventre dela.
De acordo com relatos enviados pela avó, Ana Paula Albino, e a tia-avó do recém-nascido, Alessandra Albino, houve uma sequência marcada por negligência e erro médico contra Taís. “No dia 17, deu febre, de 38 graus. Corri com ela para o hospital, começou a botar sangue para fora, pedaços e mais pedaços. Chegamos, eles mesmos falaram (alguns, não todos) que tinham esquecido gaze dentro dela, então iria
para a sala de cirurgia. Foi às pressas, tiraram a gaze, ela ficou na sala. Só que me ligou desesperada, dizendo que ainda tinha coisa dentro dela, uma enfermeira arrancou uma gaze (que diz que era um tampão) e que não conseguiu arrancar direito. Mandou ela ir para o banheiro,se abaixar e começar a puxar. Ela puxou todo o restante, foi para a cama”, detalhou Ana Paula, em áudio enviado ao Portal Eu, Rio!
“No dia 21, ela começou a se sentir mal, deitou na cama: era cheiro de podre puro. Água! A gente perguntou pra doutora, ‘isso é normal?’ Parecendo pus o sangue dela no absorvente, e eles dizendo que era normal”. Na gravação, Ana Paula explicava que a equipe responsável abdicou do parto cesariano e se decidiu pelo normal.
“Minha filha entrou no Hospital da Mãe dia 13, àssete da manhã. Deram remédio para induzir o parto dela. Quando foi oito horas da manhã do dia 14, trocou o plantão, chegou outra doutora, olhou pra ela e falou, ‘vou te ajudar, mãezinha, porque o seu bebê está em sofrimento’. Colocaram ela quase no chão, ali mandaram ela fazer força. O bebê dela veio ao mundo, mas roxo,sem chorar, nada”.