Ana Cláudia da Silva Dias Lima, de 50 anos, mãe do vendedor de vassouras, Diego William da Silva Dias Lima, de 31, morto durante uma ação policial em Queimados, na Baixada Fluminense, na manhã desta terça-feira (5) disse que tudo que mais deseja agora é que seja feita justiça e que o nome do seu filho seja limpo. Ela garante que o rapaz não estava armado e disse que ele saiu de casa por volta das 5h30 carregando apenas um feixe de vassouras e que sua intenção era passar numa fábrica perto de casa para comprar mais.
— Vassoura agora virou arma? — perguntou, indignada com a suspeita da polícia de envolvimento do vendedor de vassouras numa troca de tiros com agentes do 24º BPM (Queimados) — Só espero Justiça e limpar o nome do meu filho. Tenho convicção de que ele não atirou. Não aceito isso. Meu filho ultimamente só me dava alegria. Ele estava nas mãos do Senhor — completou a mãe.
Dona Cláudia disse que o filho era evangélico há pouco mais de um ano e estava se preparando para se batizar na igreja Batista. O batismo só não tinha acontecido ainda porque antes ele precisava oficializar a união com a companheira. Ele já tinha dado entrada com a documentação num cartório e a previsão é de que tudo fosse concluído até maio.
Diego deixou um filho de 13 anos e uma enteada de sete. O sepultamento deve ocorrer ainda no final da tarde desta quarta-feira no Cemitério Vale da Saudade, conhecido como Jaqueira, em Queimados. Diego é o filho mais velho de Ana Cláudia, que tinha dois filhos.
O vendedor de vassouras foi morto durante uma ação policial em Queimados, na Baixada Fluminense. Ele estava indo trabalhar, quando foi atingido pelas costas, disse a família à TV Globo. No mesmo dia, moradores realizaram um protesto e filmaram a confusão durante o ato, que resultou na agressão de PMs a alguns manifestantes.
Os vídeos, que foram parar nas redes sociais, mostram um dos policiais dando um tapa no rosto de uma mulher, que cai sentada na rua. Em outra gravação, agentes aparecem empurrando um homem e um deles dá um golpe (banda), batendo na perna para derrubá-lo. Os PMs discutem e vão em direção aos manifestantes em diferentes momentos.
Em nota, a PM afirma que “de acordo com policiais do 24ºBPM (Queimados), criminosos armados atacaram as equipes na comunidade do São Simão, em Queimados, na terça (05/04). Um homem foi ferido e socorrido à UPA da região”. E que a “Corregedoria da Corporação acompanha o caso”.
Pela manhã, em entrevista ao “Bom Dia Rio”, da TV Globo, o porta-voz da PM, tenente-coronel Ivan Blaz, disse que o comportamento dos agentes durante a manifestação será apurado. Segundo o militar, a mulher empurrada tenta interceder no momento da prisão de um homem.
— Os policiais estão ali efetuando uma prisão naquele momento do vídeo e a mulher vem interceder pelo preso, você tem ali que adotar algumas medidas. Logicamente, a gente vai ver na Corregedoria se essa medida adotada pelo policial foi algo proporcional. Sem dúvida nenhuma já tem uma grande confusão quando se tem a interrupção, a tentativa de interromper, de dissuadir essa manifestação — disse Blaz.
A morte de Diego aconteceu no dia seguinte à do estudante Cauã da Silva dos Santos, de 17 anos, também morto com um tiro. O jovem foi ferido na comunidade do Dourado, em Cordovil, na Zona Norte do Rio, na noite de segunda-feira (4). A família do rapaz acusou policiais militares pelo disparo e em ter jogado o corpo num valão. Ao “Bom Dia Rio”, Blaz falou dos dois casos recentes e, sobre o vendedor, ele afirmou que havia envolvimento na ação policial.
— Enquanto na situação de Cauã a gente tem ali um dado dos policiais afirmando que depois tomaram ciência de que tinha uma vítima no córrego, nesse caso, os policiais do 24º Batalhão de Queimados, eles são categóricos em afirmar a participação de Diego. Tanto que a ocorrência foi feita ali no ato. Vale lembrar ainda um detalhe, que tanto nos dois casos a gente tem aí o relato dos policiais dando conta de ataques às guarnições — disse o porta-voz.
Segundo a PM, em nota, durante a ação em Queimados foram apreendidos um revólver, duas granadas, três rádios e drogas. Ocorrência apresentada na 55ª DP.
Diego tem duas passagens pela polícia, confirmadas pela própria família, mas nada foi comprovado contra ele. A primeira foi em 2018, por acusação de associação ao tráfico, depois de ter sido baleado numa operação, mas no ano seguinte foi inocentado por falta de provas. Em 2020, o vendedor de vassouras foi acusado de roubar um celular, mas o processo ainda não está concluído.